O quartinho de Mestre Pastinha e suas condições de vida e de morte
Suas condições de vida foi algo comum para diversos praticantes da Capoeira em todo o século XX.
Mestre Pastinha morreu em 1981 em péssimas condições materiais, internado em um asilo na cidade de Salvador. Suas maiores reclamações foram dirigidas aos governantes que não apoiaram seu projeto de revitalização da academia de Capoeira e ao projeto da Capoeira Angola. Suas condições de vida foi algo comum para diversos praticantes da Capoeira em todo o século XX.
A vida de Mestre Pastinha parece ter sido dura, difícil de viver. Logo cedo conseguiu vaga na Marinha, depois teve que se integrar ao cotidiano dos trabalhadores da cidade de Salvador. Era difícil encontrar uma fonte de renda, ainda passou por algumas experiências típicas dos meninos nas ruas. Sua iniciação na Capoeira se deu quando era criança. Todo o dia passava por uma rua perto de sua casa, onde um menino de nome Honorato lhe batia. Certo dia um velho africano, vendo a cena, de sua janela, o chamou para aprender a se defender. Era Benedito, seu futuro Mestre. Ao final, Mestre Pastinha acabou vencendo o menino e conquistando a liberdade de ir e vir, naquela rua.
Sua vida foi a de um indivíduo bastante pobre e esse processo radicalizou-se com o passar dos tempos. Como ele afirmou: “nada vejo... Nada, absolutamente nada. Trevas, trevas, sempre trevas. Estou em miséria, mas ainda não estou pedindo esmola”. Mestre Pastinha, cego, idoso e desprovido de recursos materiais, sobreviveu através de ajuda de seus alunos e pessoas que o admiravam, como Jorge Amado, citado por ele mesmo em jornais da época.
Mestre Pastinha chegou a recorrer ao Governo do Estado da Bahia. Ele queria que o governo reconhecesse seu trabalho cultural e apoiasse seu projeto de tornar sua academia uma referência para o turismo na Bahia. Sua estratégia era ter sua academia reconhecida como bem de utilidade pública e receber alguma subvenção governamental. A renda da academia não dava para sua sobrevivência. Ele declarou ter recebido ajuda de Wilson Lins e Jorge Amado. A ajuda do governo parece nunca ter chegado, pois depois de um mês de sua visita ao Palácio do Governo, ele reclamou na imprensa, “solicitei um auxílio para reformar a academia, até agora nada, porém apenas promessas”.
Mestre Pastinha reivindicava um reconhecimento público do seu trabalho para a formação do “folclore baiano”. Ele dizia; “sou digno de ser amparado porque muito trabalhei. Dediquei minha vida à capoeira, à Bahia”. Seus alunos também organizaram apresentações para auxiliá-lo economicamente, como foi o caso de Gildo Alfinete, Roberto Pereira, João Grande, João Pequeno e outros. Eles organizavam apresentações da Capoeira Angola, cobrando ingressos que eram revertidos para o mestre. O próprio Mestre Bimba se ofereceu para participar das apresentações, mostrando a solidariedade entre os praticantes. Sem dúvidas foi difícil para Mestre Pastinha carregar pesado fardo, o da cegueira e da pobreza. Ainda no leito de morte, sua esposa perguntou-lhe: “Pastinha o que você está sentindo?”...Ele respondeu: “nada absolutamente nada, graças a Deus”. Vicente Ferreira Pastinha morreu em 13 de novembro de 1981.