Há muito tempo que as mulheres desenvolvem importante papel no universo da Capoeira. A primeira imagem de uma mulher na roda da Capoeira foi retratada na obra de Moritz Rugendas, “Capoeira Dança de Guerra”. Nessa obra a mulher aparece vendendo alguma comida, fazendo parte do grupo de capoeiras, no século XIX. No final do século XIX e início do XX, as mulheres passaram a aparecer mais intensamente nas fontes históricas que retratam a Capoeira. Na cidade de Salvador, em 1990, foi presa uma mulher de nome Maria Elisa, “botou-se contra o acusado em gestos de que joga capoeira querendo dar-lhe. Que o acusado pra livrar-se da mulher feriu-a com um facão”.
Esse conflito ocorreu entre diversas lavadeiras em local de trabalho. Maria Elisa do Espírito Santo, a mulher capoeira, alegou ter esquecido a toalha de sua patroa na Fonte da Baixa de Quintas, local onde lavava suas roupas, para ganhar seu sustento e o da família. Maria Elisa voltou à fonte e começou a procurar a toalha entre seus pertences. Não encontrando a toalha e com a negativa de suas colegas, passou a um estado de irritação e agrediu verbalmente algumas pessoas. Manoel de Santana, que possuía uma loja de ferragens no local, interferiu na discussão e Elisa passou a atacá-lo com golpes de capoeira. Esse fato é um dos poucos que envolve uma mulher na Capoeira, registrado nos atos processuais, no artigo 303 do código penal de 1890, referente a agressões físicas.
A memória coletiva dos praticantes da Capoeira guardou outros nomes femininos importantes. Uma delas foi a famosa “Maria Homem”, dizem que ela vivia nas ruas, jogando Capoeira, brigava, batia, apanhava e andava pelas tascas da cidade de Salvador. Outra mulher que ficou famosa nas rodas da capoeira foi “Maria do Camboatá”. Inclusive existe uma cantiga da capoeira que faz homenagem a ela…“Dona Maria do Camboatá, ela entra na roda querendo jogar…Dona Maria do Camboatá, ela disse que deu ela disse que dá…Dona Maria do Camboatá, ela dá rabo de arraia com as pernas para o ar… Ela chega na venda ela manda botar”. Com certeza era uma mulher que enfrentou a moral social de sua época e esteve presente na prática cultural da capoeira, tornando-se lendária e imortalizada pela tradição.
Encontramos uma foto de duas mulheres jogando Capoeira, com trajes estereotipados entre as fontes arquivadas pelo pesquisador Jair Moura, a qual, segundo ele, encontrava-se na academia de Mestre Bimba. Mas a Capoeira do passado foi uma prática extremamente masculinizada. Somente a partir dos anos 50 do século vinte, após uma transformação em aspectos importantes da tradição da Capoeira, que a mulher passa a ser vista no campo das artes, dos esportes, da educação física e etc. Atualmente, podemos encontrá-las enquanto mestres da Capoeira, dirigindo grupos de praticantes, participando de competições, exibições e principalmente, no cotidiano dos praticantes. Em países como Alemanha, França, Portugal, Estados Unidos e outros, elas aparecem de forma expressiva.
Hoje temos o fenômeno das rodas de capoeira feminina, encontros das mulheres praticantes da capoeira, onde promovem seminários e treinamentos dirigidos. Elas deram uma nova conotação social à prática da Capoeira, ajudando no processo de combate à discriminação dessa prática cultural no Brasil. As praticantes da Capoeira tornaram-se objeto de estudos em diversas disciplinas acadêmicas ligadas às humanidades e às artes.