O capoeira Manoel Benício dos Santos, conhecido pela alcunha de Macaco Beleza. Esse personagem foi um pleno representante do capoeira capadócio, aqueles que introduziram a prática dos capoeiras no mundo da política, na cidade de São Salvador. Claro que ele não esteve sozinho, também o acompanharam Pedro Mineiro, Antonio Boca de Porco, Samuel da Calçada e muitos outros. Eles, em geral, estiveram relacionados à frente monarquista e adeptos do Partido Liberal, e aos movimentos abolicionistas.
Macaco Beleza foi um verdadeiro militante pela causa de finalizar a escravidão no Brasil. Participava dos conflitos entre monarquistas e republicanos no final do século XIX. Ele circulava por toda a cidade, sua área era o Centro e o Cais Dourado. Seu apelido, segundo o nosso saudoso Frederico de Abreu, lhe foi auferido pela "feiura" e pela "agilidade" em seus pulos de Capoeira, no combate às forças policiais republicanas, a quem tanto ele dirigiu sua ira. Para o capadócio, a Princesa Isabel era o grande nome responsável pela abolição da escravatura. Era uma postura política da época, quando os monarquistas aproveitaram a abolição da escravidão em seu favorecimento político.
Hoje sabemos que uma ala do Partido Liberal Monarquista apoiava o projeto abolicionista. A maioria dos monarquistas defendiam uma emancipação gradual do trabalho escravo. Sabemos que a abolição da escravatura foi fruto de muitos anos de luta e conquistas. Primeiro conquistaram a lei do fim do tráfico de escravos, em 1835, mesmo assim o tráfico ilegal permaneceu até 1850, período que entraram alguns milhões de escravos no Brasil. Segundo a Lei do Sexagenário, e, com certeza, muitos conflitos com os grupos escravistas, fugas em massa, assassinatos, suicídios, organização de quilombos e outras formas de resistência. Macaco Beleza, de seu jeito, com sua consciência política, fez parte dessa grande façanha que foi a abolição da escravidão.
Por sua trajetória de vida, podemos entender o papel dos capoeiras na história política brasileira. No século XIX, grupos de capoeiras foram cooptados pelas organizações partidárias da época. Os grupos de capoeiras (maltas), geralmente organizados por bairros da cidade, territórios mantidos sobre proteção, base eleitoral. Como esclarece o repórter do Jornal Diário do Povo, em 5 de julho de 1889, "é, mas sem chapéu foi vista a turma de Macaco Beleza, formada por capoeiras e capadócios, em repetidas ações de guerra, na ruas contra os republicanos, descrita como uma malta de homens de cor, sujos, descalços, sem chapéus, rotos e ferozes" (in Frederico de Abreu, 2011).
Um fato marcante envolvendo o capoeira Macaco Beleza, ocorreu em 1888, quando do ato da Proclamação da Abolição, ele chorou e chorou, em silêncio, suas lágrimas rolaram em sua face discriminada pela cor e pelas feições fora dos padrões de beleza negra de seu tempo. Em sua lágrimas se via a alegria de uma grande vitória, representando a alegria dos negros, naquele momento, quando tornaram-se ex-escravos.
Outro fato marcante foi o intitulado de "O Massacre do Taboão". Segundo Frederico de Abreu, um grande “pesquisador, cronista e memorialista" da história da Capoeira, na segunda metade do século XX, tratava-se de um confronto entre forças monarquistas e republicanas. O fato se deu no dia 14 de junho de 1889, no Tabuão, rua que liga a cidade Baixa à cidade Alta, reduto de capoeiras, próximos ao Terreiro de Jesus. O conflito se deu pela visita de Silva Jadim, político republicano, e Conde d'Eu, esposo da Princesa Isabel. Os correligionários de cada lado entraram em alvoroço, os capoeiras também estavam dos dois lados, pois não existia política sem capangagem, sem encontros turbulentos e violentos, viveram na época onde a cultura política era dominada pela utilização de braços armados, homens dispostos a tudo, sob o comando de seus chefes políticos.
Dessa forma os capoeiras entraram em ação, o lado dos monarquistas tinha como líder o capoeira Macaco Beleza. Ele, que já adorava um confronto, aproveitou para fazer os republicanos correrem, dando fim ao comício, acusando os republicanos, principalmente, Silva Jardim, de ter insultado o Conde d’Eu. Macaco Beleza invadiu as “repúblicas de estudantes” (moradias estudantis) e as casas de conhecidos republicanos. No dia seguinte, o Conde d'Eu, sabendo das ações de Macaco Beleza, o convidou para participar das comemorações e homenagens à monarquia. Foi seu grande dia de glória. Ele não viveu muito, morreu em 8 de março de 1898. Deixo ao leitor um pouco de sua vida na memória de Giraldo Balthazar da Silveira, em "Crônicas de um Tempo que passou" (In Frederico de Abreu):
"Não o conheci bem, pois era muito criança quando o vi pela primeira vez. Descia com meu pai em direção a Ladeira do Tabuão, quando deparamos com grande multidão reunida no início desta Ladeira. Do parapeito gradeado na parte Baixa do Pelourinho, um mulato de grande cabeleira e rosto grotesco, dirigia a palavra ao povo ali reunido. Com curiosidade perguntei a meu pai quem era ele e o que estava a fazer ali? Respondeu-me dizendo ser uma figura bastante conhecida, um tipo de rua, alcunhado de Macaco Beleza, o qual sendo intransigente e ferrenho monarquista, não se conformava com a implantação da forma republicana de governo..."