O Mercado Modelo sempre foi uma grande referência histórica, um local de chegada das etnias africanas ao Brasil. Estudos apontam as possibilidades étnicas na explicação das origens da Capoeira no Brasil. Se aqui aportaram etnias do tronco linguístico Bantu, Yorubá e Gegê, coube aos Bantu a honra de terem inventado a Capoeira no Brasil. Documentos mais antigos se encontram nos arquivos cariocas, principalmente o Arquivo Nacional, onde temos a guarda dos principais documentos da história do Brasil. Lá podemos encontrar registros dos capoeiras desde o final do século XVIII.
Tudo indica que a Capoeira foi inventada da união de diversas culturas étnicas dos povos Bantu. Encontramos escravos angolas, congos, moçambiques, e, em número menor, os sudaneses. Isso demonstra uma origem afro-brasileira para a Capoeira, ou seja, fruto cultural dos africanos no Brasil. Somente no decorrer do século XIX, que os escravos brasileiros se integraram aos praticantes da Capoeira, transformando a estrutura cultural da Capoeira, imprimindo modificações de extrema importância na sociedade brasileira.
Daí surgiram as chamadas “Maltas de capoeiras”. Esse fenômeno se expandiu pelas principais capitais brasileiras, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Luiz e Belém do Pará. A Capoeira se expandiu pelo mar, no corpo dos estivadores, nos embarcadiços, nos trabalhadores nas ruas, se alastrando pela sociedade. A Capoeira foi proibida de ser praticada cabendo aos escravos presos por sua prática castigos que chegavam a 400 chibatas, palmatórias e outras formas de tortura. Em Salvador não foi diferente. Os grupos se organizaram por bairros da cidade, ocuparam territórios, tomando conta de determinados pontos. Um deles foi o Mercado Modelo, local de encontro dessa gente, que ao som de palmas e atabaques exercitava a luta do lugar.
Nessa época, no século XIX, ainda não existia uma definição da parte lúdica da Capoeira, aparecendo poucos casos que revelem instrumentos musicais. Sua característica principal era a luta de rua, entre grupos rivais, também chamados de desordeiros, capadócios e valentões. Os capoeiras demonstraram uma forte ligação com as organizações políticas da época, os partidos Conservador e Liberal do regime monarquista no Brasil. Inclusive foram acusados de defenderem a monarquia no conflito com os republicanos. Em parte é verdade, pois, pode-se encontrar capoeiras nas facções republicanas. Com o advento da República, a Capoeira foi criminalizada e incluída no código penal de 1890, em seu artigo 402, que previa a pena de 1 a 4 meses de prisão e deportação para presídios isolados em ilhas marítimas (Ilha Grande, no Rio de Janeiro e Fernando de Noronha, em Pernambuco).
Na cidade de Salvador, não encontramos capoeiras processados no artigo 402 do código penal; quando presos foram enquadrados no artigo 303 que tratava das agressões físicas. A Capoeira, no tempo da escravidão, não era vista como esporte ou arte, era criminalizada. Mas seus praticantes resistiram e permitiram que ela chegasse até os dias de hoje. Muitas gerações já passaram pela capoeira do Mercado Modelo, tornando aquele lugar um referencial capoeirístico da cidade de São Salvador. O principal acesso ao Mercado se dava pela “Montanha”. A partir do final do século XIX foi construído o Elevador Lacerda, outro ponto turístico e de exibições da Capoeira na segunda metade do século XX.
Podemos citar diversos nomes de capoeiristas que fizeram do Mercado Modelo seu ponto de apoio já em uma época contemporânea, quando a capoeira se torna arte, esporte, atração turística que embeleza os olhos de quem a vê: Mestres Di Mola, Gajé, Índio, Cebolinha, Cacau, Americano, entre outros.
“Quando eu chego no mercado modelo antes do amanhecer, tem tanta gente me esperando, perguntando ‘negão, o que vai fazer?’ Eu respondo, sou capoeira de batuquegê, lalalaei, lalaie...”