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A Baixinha ou Baixa dos Sapateiros. Terra de Bamba, só anda descalço quem quer

A Baixa dos Sapateiros foi local de concentração dos capoeiras desde o século XIX.

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A Baixinha ou Baixa dos Sapateiros. Terra de Bamba, só anda descalço quem quer...

A Baixa dos Sapateiros foi local de concentração dos capoeiras desde o século XIX. Importante local de reunião de capoeiras, espaço estratégico, passagem obrigatória e de realização de eventos públicos. Nesse local aconteceram muitos casos envolvendo a cultura da capoeira, uma delas foi o nascimento de Mestre Noronha, célebre capoeirista angoleiro do século XX.

Professor Antonio Liberac Cardoso Simões Pires

Descricao Na Baixas dos Sapateiros, lugar conhecido por todos os baianos e visitantes, área comercial importante, ocorriam festas de largo na passagem de saída do centro histórico. Ali tivemos uma grande concentração de praticantes da Capoeira desde início do século XX. Nesse local, no ano de 1909, nasceu um dos mais importantes capoeiristas da história, o famoso Mestre Noronha, seu nome de batismo era Daniel Coutinho. Disse ter aprendido Capoeira com o seu Mestre Cândido Pequeno e teria passado por vários ofícios antes de trabalhar com o ensino da Capoeira, principalmente em atividades ligadas ao cais do porto. Nesse ambiente, ele entrou em contato com os praticantes da capoeira na época. Mestre Noronha declarou que: "A minha vida na cultura de mestre de capoeira, doqueiro, trapicheiro...meu mandato de mestre sempre firme na luta porque tenho amor a pátria".

Mestre Noronha desenvolveu uma filosofia nacionalista para a capoeira. Quando resolveu sair da Gengibirra e fundar seu próprio grupo, as cores de seu "uniforme" eram verde e amarela, representando o panteão brasileiro, diferenciando-se do grupo do Mestre Pastinha que tinha escolhido o amarelo e preto, cores do Clube Ypiranga de Futebol, uma adequação esportiva na época. Mestre Noronha deixou alguns manuscritos que foram publicados por Frederico de Abreu. Tais manuscritos são um dos documentos mais importantes e que possibilitou aos profissionais da historiografia brasileira acessar os documentos jurídicos e policiais da primeira metade do século XX. Noronha apresentou uma listagem de praticantes desvendando seus nomes e apelidos. A partir dessa listagem e juntando com as listas de nomes de praticantes arrolados por Mestre Pastinha, Mestre Bimba, Mestre Waldemar da Paixão, Manoel Querino, Antonio Viana, Caribé, Waldeloir Rêgo e Jorge Amado, todos Mestres e intelectuais da época, foram localizados cerca de cem praticantes da Capoeira do início do século XX.

Os escritos de Noronha ainda confirmam lugares de encontro dos praticantes. Ele foi um Mestre importante, conhecido por todos e conhecedor de todos. Na concepção de Mestre Noronha "quem trouxe esse grande esporte foi o negro africano que brincava na hora de suas folgas". Noronha enfatiza o papel dos africanos na formação cultural da Capoeira. Para ele, a Capoeira era afro-brasileira, ou seja, dos africanos no Brasil. Essa discussão é longa, pois alguns dizem que a Capoeira tem origem indígena. Esse debate perdura até os dias de hoje e é tema para muitas discussões entre os praticantes. A posição mais explicativa para a origem da Capoeira é que ela é afro-brasileira, ou seja, uma invenção cultural no contato entre diversas etnias africanas, no Brasil. Assim teriam nascido os primeiros elementos da instituição que se tornaria a prática da Capoeira. Ela nasce na cultura escrava e se espalha entre seus descendentes no Brasil (os crioulos, negros nascidos no Brasil).

A Capoeira teria se transformado nesse processo histórico de formação cultural, recebido aportes culturais de vários grupos étnicos: portugueses, brasileiros descendentes dos portugueses e indígenas. Mesmo no século XIX, tivemos muitos praticantes da Capoeira estrangeiros. Inclusive o artigo 402 do código penal de 1890, que proibiu a prática, já mencionava que a pena para estrangeiros praticantes da Capoeira seria a deportação. Algumas lutas são apontadas como suposta origem da capoeira. Uma dela é o N’Golo do Mucope, na região Sul de Angola. Outras lutas se assemelham à Capoeira, como a Ladia da Martinica ou o Mani cubano. Os manuscritos de Mestre Noronha propiciam tais discussões e muitas outras. Sua importância foi a de relatar os praticantes da Capoeira em um período que era uma lacuna para a história da Capoeira.

Mestre Noronha sempre defendeu os praticantes, os colocando como trabalhadores, como cidadãos de uma sociedade que não desenvolvia as condições de vida necessárias à mobilidade social, "todos os capoeiristas são operários e não vagabundos", comentava o Mestre, e a historiografia acabou demostrando isso, ele esteve sempre um passo a frente. Infelizmente a maioria dos mestres de sua época reclamam de não terem sido absorvidos pela sociedade enquanto agentes culturais, pois isso está em contraste com a ascensão social da Capoeira enquanto símbolo de nacionalidade.

Mestre Noronha, um dos mantenedores da memória da Capoeira na primeira metade do século XX, nascido na Baixa dos Sapateiros em 1909, faleceu em 1977, deixando para nós informações sobre as rodas de capoeira no "Morro da Cruz, Morro da Fazenda, Morro do Pilão, Morro da Conceição, Morro da Piedade...", diz que nesses locais os "bambas ajustavam suas contas no duro". A partir dessas informações, percebe-se que ainda temos muitas coisas a descobrir.

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